Pioneiros de Rochdale
Cooperativismo desde 1844 uma força aglutinadora, que começou em Rochdale
A cooperação entre os seres humanos faz parte do seu próprio instinto de sobrevivência desde as épocas em que o homem vivia nas cavernas. Durante toda a história humana, vemos que a solidariedade e a ajuda - mútua sempre foi uma característica das civilizações. Com o desenvolvimento das organizações da sociedade e com a troca de mercadorias e posteriormente com o surgimento da era industrial, houve a necessidade de um amparo mútuo. Principalmente no século XIX com a Revolução Industrial implantada na Inglaterra, França e Alemanha, acentuou-se a exploração do homem para o homem, com o abuso dos donos das indústrias, que exploravam seus trabalhadores. Formou-se então, uma classe proletária que trabalhava até 17 horas por dia e pouco recebia. Era preciso uma reação e essa veio através do cooperativismo.
Enquanto que aqui no Sul do Brasil, o governo imperial recebia os primeiros imigrantes alemães em 1824 e enquanto as tropas de Bento Gonçalves pelejavam por campos gaúchos, durante 10 anos, de 1835 e 1845, na Inglaterra, um pequeno grupo de trabalhadores do setor têxtil passavam por momentos muito difíceis, com péssimas condições de trabalho, com excesso de horas, baixa remuneração e inclusive a fome campeando em suas famílias. Foi então que um deles teve a iniciativa de reunir os companheiros, apresentando uma idéia de formarem uma sociedade cooperativa, como forma de resolver seus problemas.
E a 21 de dezembro de 1844, um grupo de 28 pessoas, na cidade de Rochdale, na Inglaterra, num lugar chamado Toad - Lane (Beco do Sapo) foram lançadas as bases da primeira cooperativa de tecelões, denominada de Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale. Dos 28 tecelões, 8 tinham o nome de James; 7, de John; 3 de William, 2 de Samuel e 2 de Benjamin. Ao final do primeiro ano, a cooperativa contava com 74 sócios. Depois de 11 anos, possuía 400 sócios e 22 anos depois alcançava a 6 mil associados. Estava lançada a semente do cooperativismo mundial que hoje abrange a mais de 900 milhões de pessoas.
Aqui no Brasil, a primeira cooperativa que se tem notícia foi de produção agropecuária, numa colônia no Paraná, em 1847, três anos após a fundação da primeira na Inglaterra. Em 1887, no ramo de consumo, foi fundada a Cooperativa dos Empregados da Cia. Paulista, em Campinas, São Paulo. No Rio Grande do Sul, o pioneirismo se deve ao alemão, Pe. Teodoro Amstad, que criou a Caixa Rural, berço do cooperativismo de crédito em 1902, na Linha Imperial, Nova Petrópolis. O cooperativismo agropecuário ressurgiu em Minas Gerais, por iniciativa do governador da época, João Pinheiro, em 1907, como forma de reduzir a intermedição de produtos agrícolas. Hoje o cooperativismo está em todos os ramos de atividade, com mais de 6 mil cooperativas em todo o país.
Cooperativa de Força e Luz de Quatro Irmãos
Os gaúchos tiveram o privilégio, a criatividade e a coragem para, fundar a primeira cooperativa de eletrificação rural do Brasil. Foi a Cooperativa de Força e Luz de Quatro Irmãos, localizada no estão Oitavo Distrito, do município de José Bonifácio, hoje Erechim/RS. Foi fundada no dia 2 de abril de 1941, com o objetivo de gerar energia para a pequena localidade, sede da companhia colonizadora da região, que se instalou em 1911.
Foi a Jewish Colonization and Association, encarregada de implantar novas cidades em terras até então virgens. Hoje na sua área de ação foram implantadas cidades como Jacutinga, Campinas, Sertão, Getúlio Vargas e Estação, entre outras.
O primeiro Presidente da Cooperativa foi Alberto Verminghoff que juntamente com outros 22 associados, realizaram uma reunião na sede da empresa colonizadora e decidiram fundar a cooperativa para levar energia até a sede da localidade. Além de Alberto, foi eleito para diretor comercial o associado Isidoro Eisenberg e para diretor-gerente Reinaldo Fleck.
Um dos associados Samuel Chwartzmann, em 1980, relatou que os primeiros anos foram muito difíceis. Primeiramente foi feita uma represa e depois o canal que conduzia a água até a casa de máquinas, onde existia um gerador de apenas 40 kVA. Em 1951, com o surgimento de serrarias, perto do açude, toda a serragem era jogada na represa e houve a necessidade de drena-la, pois a água tornou-se insuficiente para a pequena central hidrelétrica. Após uma reunião com os associados decidiu-se por dois pontos: um novo açude e a limpeza da velha barragem. Posteriormente, a partir de 1968, quando as redes de energia da CEEE chegaram à região, na sede da localidade então com o nome de Quatro Irmãos, a Cooperativa perdeu sua finalidade, porém sua desativação deu-se apenas em 1977, quando todos os associados já tinham saído da localidade. Em 1980, restava somente o motor da pequena usina e a velha sede, que tornou-se um depósito de soja. Hoje a região é atendida pela Cooperativa CRERAL, que tem sua sede na cidade de Erechim/RS.
Lançada a semente do cooperativismo de eletrificação, em 1941, ela germinou e foram fundadas no Estado 19 cooperativas, destas 15 continuam distribuindo energia elétrica, no interior do Estado e foram criadas outras 9 que desenvolvem outras atividades, na área de energia, gerando energia através de pequenas centrais hidrelétricas, de biomassa e solar, além de levarem internet aos lares agrícolas:
Cooperativa | Sede | Data de Fundação Cooperativa de Distribuição de Energia |
Data de Fundação Cooperativa de Desenvolvimento Rural |
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CERTEL | Teutônia/RS | 19/02/1956 | 28/09/2007 |
CERMISSÕES | Caibaté/RS | 18/02/1961 | - |
CERFOX | Fontoura Xavier/RS | 09/07/1962 | 14/12/2015 |
CRELUZ | Pinhal/RS | 03/04/1966 | 30/09/2008 |
CERILUZ | Ijuí/RS | 20/08/1966 | 06/06/2006 |
COPREL | Ibirubá/RS | 14/01/1968 | 11/08/2006 |
CRERAL | Erechim/RS | 23/07/1969 | 29/05/2009 |
CELETRO | Cachoeira do Sul/RS | 09/09/1969 | - |
CERTAJA | Taquari/RS | 17/10/1969 | 26/09/2007 |
CERTHIL | Três de Maio/RS | 23/11/1969 | 01/01/2009 |
COOPERLUZ | Santa Rosa/RS | 05/12/1970 | 31/05/2007 |
COOPERSUL | Bagé/RS | 20/10/1972 | - |
CERVALE | Santa Maria/RS | 20/10/1974 | - |
COOPERNORTE | Viamão/RS | 09/03/1975 | 05/01/2018 |
COSEL | Encruzilhada do Sul/RS | 09/09/1975 | - |
As cooperativas surgiram e desenvolveram as áreas onde atuam, (i) primeiro pela falta de interesse das concessionárias em expandir suas redes e levar energia à área rural, (ii) segundo pelo surgimento, na década dos anos 70, de financiamentos do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento, que era exclusivamente para cooperativas de eletrificação rural, repassados, na época, pelo Ministério da Agricultura, através do GEER - Grupo Executivo de Eletrificação Rural.
Deste modo as propriedades rurais isoladas e pequenos povoados, constituídos de pequenos e médios agricultores, fundaram as cooperativas, construíram as redes de energia elétrica, passaram também a mantê-las, operá-las e expandi-las, criando assim sistemas isolados de distribuição de energia elétrica, no meio rural.
(O primeiro registro do uso de energia elétrica na zona rural data de 1923, quando João Nogueira de Carvalho, instalou eletricidade em sua propriedade no município de Batatais - São Paulo/SP.)
Em 2011, a Fecoergs editou o livro - "A revolução silenciosa – A saga da eletrificação rural cooperativada do RS", que conta em detalhes a luta dos associados e de seus representantes, para usufruírem também dos benefícios da energia elétrica.
É a união de pessoas voltadas para um objetivo comum, sem visar lucro.
O cooperativismo, como o próprio nome já diz, tem como sua maior finalidade, libertar o homem do individualismo, através da cooperação entre seus associados, satisfazendo assim as suas necessidades.
Defende a reforma pacífica e gradual da coletividade e a solução dos problemas comuns através da união, auxílio mútuo e integração entre as pessoas. Busca a correção de desníveis e injustiças sociais com a repartição equitária e harmoniosa de bens e valores.
1. Adesão livre e voluntária - Cooperativas são organizações voluntárias abertas para todas as pessoas aptas para usar seus serviços e dispostas a aceitar suas responsabilidades de sócio sem discriminação de gênero, social, racial, política ou religiosa.
2. Controle democrático pelos sócios - as Cooperativas são organizações democráticas controladas por seus sócios, os quais participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e nas tomadas de decisões.
Homens e mulheres, eleitos pelos sócios, são responsáveis para com os sócios. Nas cooperativas singulares, os sócios têm igualdade na votação; as Cooperativas de outros graus são também organizadas de maneira democrática...
3. Participação econômica dos sócios - os sócios contribuem eqüitativamente e controlam democraticamente o capital de sua Cooperativa.
Parte desse capital é usualmente propriedade comum da Cooperativa para seu desenvolvimento.
Usualmente os sócios recebem juros limitados sobre o capital, como condição de sociedade.Os sócios destinam as sobras para os seguintes propósitos: desenvolvimento das Cooperativas, apoio a outras atividades aprovadas pelos sócios.
4. Autonomia e Independência - as Cooperativas são organizações autônomas de ajuda mútua. Entrando em acordo operacional com outras entidades, inclusive governamentais, ou recebendo capital de origem externa, elas devem fazer em termos que preservem o seu controle democrático pelos sócios e mantenham sua autonomia.
5. Educação, treinamento, informações - as Cooperativas oferecem educação e treinamento para seus sócios, representantes eleitos, administradores e funcionários para que eles possam contribuir efetivamente para o seu desenvolvimento. Também informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes formadores de opinião sobre a natureza e os benefícios da cooperação.
6. Cooperação entre cooperativas - as cooperativas atendem seus sócios mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativo trabalhando juntas, através de estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.
7. Preocupação com a comunidade - as Cooperativas trabalham pelo desenvolvimento sustentável de suas comunidades, através de políticas aprovadas pelos seus membros.
Os símbolos e a bandeira do cooperativismo:
Pinheiro - Antigamente era tido como símbolo da imortalidade e da fecundidade pela sua sobrevivência em terras menos férteis e pela facilidade na sua multiplicação. | |
Círculo - Representa a vida eterna, pois não tem horizonte final, nem começo, nem fim. | |
Verde - O verde escuro das árvores lembra o princípio vital na natureza. | |
Amarelo - O amarelo ouro simboliza o sol, fonte de energia e calor. | |
Assim nasceu o emblema do Cooperativismo: um círculo abraçando dois pinheiros, para indicar a união do movimento, a imortalidade de seus princípios, a fecundidade de seus ideais, a vitalidade de seus adeptos.Tudo isso marcado na trajetória ascendente dos pinheiros que se projetam para o alto, procurando subir cada vez mais. |